Pr. David Silva

Pr. David Silva

quarta-feira, 23 de março de 2011

Ex-BBB, deputado levanta bandeira gay e diz que família de comercial de margarina não existe


Ele surgiu na televisão, jornais e revistas por meio do programa BBB (Big Brother Brasil), mas hoje, como deputado federal, nega o rótulo de celebridade e pretende ser reconhecido como defensor dos direitos dos LGBTs (lésbicas, gays, bissexuais e transexuais).



Jean Wyllys (PSOL-RJ) fez seu primeiro pronunciamento em plenário nesta quinta-feira (24) e defendeu uma PEC (Proposta de Emenda Constitucional) que assegura o direito dos homossexuais ao casamento civil. Sorridente e simpático, mas seguro, o baiano conversou com o R7 momentos depois de descer do púlpito.

Durante a conversa, curiosos que passavam pelo salão verde da Câmara dos Deputados se aglomeraram em volta do parlamentar, que atendeu a pedidos de foto e conversou com fãs eleitores.

Como foi esse primeiro pronunciamento para o plenário?

É muito estranho você ter que falar para a audiência da TV Câmara e não para o quórum no plenário. Então tive que abstrair e imaginar que tinha ali deputados e deputadas me escutando. Foi muito estranho. Eu comecei pensando: nossa, para quem eu vou falar? Mas, no fim, tudo deu certo.

E como você tem encarado esse assédio até aqui dentro da Câmara?

Isso tem acontecido bem menos do que eu imaginava e acontece bem menos por causa da minha postura. Mas eu acho natural. Eu já era uma pessoa conhecida do grande público. Tem parlamentares aqui que só não são fotografados porque não têm uma imagem pública positiva, mas que são conhecidos também.

Neste momento que você está vivendo, ser um ex-BBB ajuda ou atrapalha?

Para mim não atrapalha em nada. Isso é uma obsessão de vocês da imprensa. Isso foi um detalhe na minha vida bacana, importante, mas foi um detalhe.

Mas deu visibilidade...

É, mas deu visibilidade para aquilo ali. Para a tarefa que eu exerço agora e que venho exercendo há bastante tempo não dá visibilidade nenhuma. Tanto é que eu me retirei da cena do show business por isso. Agora, a ressurreição dessa história é uma obsessão da imprensa, não minha.

Ser ex-BBB deu votos?

Não, não deu voto porque eu não usei absolutamente nenhuma referência na minha campanha do Big Brother.

Essa referência do público não é automática?

Não é automática porque se passaram seis anos. Faz seis anos que eu participei do programa. Durante seis anos eu estou ausente da grande mídia voluntariamente e não fiz qualquer referência. Eu uso barba, estou completamente diferente.

O senhor pretende reestruturar a Frente Parlamentar Mista Pela Cidadania e propor uma PEC. Como anda esse trabalho?

Estamos recolhendo assinaturas. Faltam poucas. A gente conseguiu adesão de peso, de pessoas muito bacanas, por outro lado teve deputados que a gente não imaginou que fossem se recusar a assinar.

Quem se recusou, por exemplo?

Por exemplo, a Benedita da Silva (PT-RJ), que é mulher, negra, e tem origem na favela. Apesar dessa tripla exclusão e de ela ter ressaltado que desenvolveu, enquanto governadora, políticas públicas a favor dos gays. Ela disse que não assinaria por questões íntimas, da sua religião. Ela é evangélica. Mas houve gente interessante, o deputado Vicentinho assinou a Frente, o João Paulo Cunha...

Jair Bolsonaro? [Deputado declaradamente contra as causas LGBTs]

Você está brincando, né? Você está virando repórter do Pânico [programa da Rede TV!] com essa pergunta! [risos]

O senhor defende mais que a união homoafetiva. Qual a diferença entre essa união e o casamento?

O casamento religioso é para sempre. A igreja não casa uma pessoa duas vezes. Se uma pessoa pode casar uma, duas, três vezes no civil é porque o casamento civil não é matéria da igreja. Então se o casamento é um direito civil, ele tem que ser estendido ao conjunto da população em um Estado democrático. O casamento assegura a proteção dos bens, os direitos sucessórios, automaticamente o direito a adoção, constituir família.

A família mudou?

A família do comercial de margarina não existe. [...] A família pode se estender para outros arranjos familiares, podem ter dois pais, duas mães, desde que haja um ambiente de afeto, de amor. [...] A ausência da lei não vai impedir a existência dos casais. Existem casais homoafetivos há realidade da vida. Agora, o direito tem que existir.

A sociedade brasileira está preparada para o casamento gay?

Nessa questão, a gente tem que pensar no princípio de justiça. Por exemplo, no século 19, a população não estava preparada para o fim da escravidão, entretanto a Lei Áurea teve que ser aprovada por um princípio de justiça. Então não é porque a sociedade brasileira não está preparada para o casamento civil entre homossexuais que o casamento não deve ser aprovado.

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